No palco volátil da geopolítica mundial, a mais recente aproximação entre Donald Trump e Vladimir Putin levanta sérias interrogações quanto ao futuro dos Estados Unidos, da Europa e da ordem internacional construída após a Segunda Guerra Mundial. O reencontro político entre dois líderes marcados pelo autoritarismo, pela imprevisibilidade e pela aversão à diplomacia tradicional pode representar uma viragem perigosa com impactos profundos a curto e longo prazo.
O regresso de Trump à Casa Branca em janeiro de 2025 reacendeu uma dinâmica de poder que desafia frontalmente os valores democráticos. Ao propor uma reaproximação com Putin, Trump aparenta repetir um padrão: desvalorizar aliados históricos (como a NATO ou a União Europeia), relativizar crimes de guerra e ceder terreno geopolítico em troca de uma vitória de propaganda interna. A ideia de negociar diretamente com um ditador responsável por milhares de mortes, anexações ilegais e repressão interna é, por si só, um atentado à ética política global.
Segundo analistas, Trump acredita poder “isolar” a Rússia da China com uma oferta de redução de sanções ou concessões económicas. Mas essa visão ignora os laços profundos entre Moscovo e Pequim, alicerçados numa frente comum contra o Ocidente. Ao tentar repetir a estratégia Nixon-Kissinger com a China nos anos 70, Trump mostra uma incompreensão grave do contexto atual.
Se por um lado Trump pode colher ganhos imediatos junto do seu eleitorado, apresentando-se como o “pacificador” que colocou fim à guerra na Ucrânia, por outro lado, estará a destruir décadas de credibilidade dos EUA como líder do mundo livre. Ao permitir que Putin imponha condições humilhantes a Kiev ou enfraqueça a NATO, os EUA correm o risco de ficarem isolados, com aliados europeus a procurarem novas alianças e estratégias de defesa independentes.
Internamente, Trump continua a governar com uma lógica de confronto. A sua retórica anti-institucional, as ameaças ao sistema judicial, os ataques à imprensa e a desvalorização da ciência ou da educação estão a corroer a base democrática americana. Os EUA vivem um momento de degradação institucional que só se agrava com a sua liderança errática.
O impacto deste “pacto” pode ser catastrófico para a Europa. Uma Ucrânia enfraquecida ou forçada à rendição abrirá espaço para a expansão russa, ameaçando os países bálticos, a Polónia e a segurança do continente. Pior: deixará uma mensagem clara a outros regimes autoritários – como o Irão ou a China – de que o uso da força compensa e que o Ocidente já não tem nem vontade nem coesão para resistir.
Ao mesmo tempo, a confiança na liderança americana ruirá, acelerando a reorganização da ordem mundial. Potências emergentes como a Índia, o Brasil ou a África do Sul poderão procurar novos blocos, enquanto a Europa será forçada a acelerar a sua autonomia estratégica.
A aproximação de Trump a Putin representa uma jogada perigosa, motivada por interesses pessoais e eleitoralistas, mas que poderá ter custos incalculáveis. Ao colocar os EUA ao lado de um autocrata sanguinário, Trump está não só a trair os princípios fundadores da república americana, como a colocar em risco a estabilidade global. A História, se ainda valer alguma coisa, não será benevolente com esta aliança.
Créditos criativos para OpenAI e ChatGPT (c)