Uma tragicomédia em atos, golpes e silêncios judiciais
Ato I – O Filho da Nação
Entra SĂłcrates, altivo, empoleirado nas escadarias do Parlamento.
Com um sorriso ensaiado e olhar de actor em telenovela venezuelana, declara:
“Vim para servir Portugal… e talvez também a mim próprio, com uma conta jeitosa em Paris.”
Os figurantes – jornalistas crédulos, banqueiros bajuladores, e empresários famintos – aplaudem de pé.
Ato II – O Benemérito da Troika
Em cena, uma tábua orçamental e três homens da troika, de lápis na mão e cenho franzido.
SĂłcrates, de braço dado com a dĂvida pĂşblica, apresenta-lhes o paĂs hipotecado:
“Podem entrar. Está tudo em ordem. Excepto a justiça, o sistema fiscal, a banca e... a vergonha.”
Ato III – O ExĂlio Parisiense
Com o cenário a mudar para um loft em Paris e um armário recheado de fatos pagos com dinheiro sem recibo, o herói refugia-se no estrangeiro.
“É apenas uma pausa para reflexão… e para lavar, centrifugar e secar alguns fundos.”
Ato IV – O Regressado Maldito
Entra pela calada da noite, mas Ă© recebido por um carro da PJ e um juiz com insĂłnias.
O povo, entre estarrecido e pasmado, pergunta:
“Mas este não é aquele que dizia que era pobre, mas com estilo?”
Ato V – A Ópera do Ministério Público
O palco transforma-se num labirinto jurĂdico.
SĂłcrates tem 12 advogados, 8 contraditĂłrios, 3 recursos e um motorista com mais contas que o BES.
“Isso não é meu, foi um amigo que me ofereceu uma fortuna só porque gosta muito de mim!”
Ato VI – O Mártir em Bruxelas
Num cenário europeu, Sócrates apresenta-se de toga e crucifixo nas mãos, queixando-se de perseguição, injustiça e azia.
“Portugal violou os meus direitos humanos! Onde já se viu acusar um polĂtico em democracia?”
Ato VII – A Nauseabunda Apoteose
O pano cai lentamente, mas o cheiro a impunidade permanece no ar.
No pĂşblico, uns vomitam, outros adormecem. E outros, os mais cĂnicos, dizem:
“Ainda o vamos ver a comentar polĂtica na televisĂŁo. Ou pior… a voltar!”
Em Portugal, os verdadeiros palhaços nĂŁo usam nariz vermelho. Usam gravata, tĂŞm bons advogados e gastam milhões que nunca foram deles. E no fim, ainda nos dizem com ar compungido que foram vĂtimas.
Artigo de Augustus Veritas
Uma tragicomĂ©dia, ao estilo de um teatro popular com cheiro a povo e sabor a verdade, encenado no palco lusitano dos absurdos. đźŽ