Portugal encontra-se numa encruzilhada perigosa. Décadas de promiscuidade entre o poder político e os interesses privados criaram um sistema que perpetua desigualdades, mina a confiança dos cidadãos e bloqueia qualquer tentativa de mudança real. A especulação imobiliária, a captura do Estado por grupos económicos e a falta de transparência na política tornaram-se as marcas registadas do país, deixando a maioria da população à mercê de um sistema desenhado para beneficiar uma elite restrita.
O mercado imobiliário português é um dos setores mais evidentes desta corrupção institucionalizada. Com o preço das casas a atingir níveis insustentáveis e os salários a ficarem estagnados, milhares de portugueses veem-se forçados a emigrar ou a viver em condições precárias. O que deveria ser um direito básico – a habitação – tornou-se um luxo inacessível para muitos.
Mas como chegámos aqui? A resposta está na forma como sucessivos governos criaram políticas que favorecem investidores estrangeiros e grandes fundos imobiliários. Programas como os Vistos Gold e os Benefícios Fiscais para Residentes Não Habituais atraíram capital estrangeiro, inflacionando os preços das casas sem qualquer benefício para os portugueses. Além disso, os grandes grupos imobiliários têm ligações diretas com políticos e ex-governantes, criando um ciclo vicioso onde a legislação serve os interesses dos investidores, e não do povo.
O problema não se limita ao setor imobiliário. Em praticamente todas as áreas-chave – da energia à banca, das telecomunicações à saúde – encontramos o mesmo padrão: políticos que, depois de saírem do governo, assumem cargos bem remunerados em empresas que antes regulavam. O fenómeno das "portas giratórias" é um dos principais fatores que impedem uma governação justa e transparente.
Os exemplos são muitos:
Este sistema transforma a política num jogo de interesses, onde a prioridade não é o bem-estar dos cidadãos, mas sim a maximização dos lucros para uma pequena elite.
Para agravar a situação, a justiça em Portugal tem-se mostrado incapaz de combater eficazmente a corrupção. Casos mediáticos envolvendo políticos e empresários arrastam-se por anos nos tribunais, muitas vezes acabando em arquivamento ou penas simbólicas. Quando ocorrem condenações, raramente há consequências reais.
A falta de recursos do sistema judicial, a lentidão dos processos e a influência do poder económico sobre certos setores da magistratura criam um ambiente onde a impunidade reina. O resultado é um país onde os cidadãos perderam a fé na justiça e onde a corrupção já é vista como um problema estrutural, quase inevitável.
O atual estado do país não é fruto do acaso, mas sim de um sistema político e económico que foi moldado ao longo de décadas para servir uma minoria privilegiada. Mudar esta realidade exige mais do que pequenos ajustes legislativos ou reformas superficiais. É necessária uma transformação profunda, que envolva:
Portugal ainda pode mudar de rumo, mas isso só acontecerá se a sociedade se mobilizar para exigir responsabilidade, justiça e transparência. A questão que fica é: estaremos dispostos a lutar por essa mudança?
Créditos para IA e chatGPT (c)