Portugal encontra-se num ponto de viragem. Atravessa uma fase em que o presente é marcado por tensões institucionais, cansaço colectivo e desconfiança generalizada. O futuro, esse, permanece envolto em névoa — não a mÃstica de um D. Sebastião redentor, mas sim a de uma nação que há décadas adia reformas estruturais, vive entre crises sucessivas e enfrenta o mundo em constante mutação com um Estado exaurido e uma sociedade cética.
Apesar dos avanços nas últimas décadas, Portugal continua a ser um dos paÃses mais desiguais da Europa. A pobreza atinge quase 20% da população, mesmo com transferências sociais. Os salários baixos, a precariedade laboral e o envelhecimento demográfico formam um ciclo vicioso difÃcil de quebrar. Muitos jovens, mesmo com qualificações, partem em busca de melhores oportunidades, deixando para trás um paÃs sem massa crÃtica para inovar ou competir globalmente.
Os sucessivos escândalos de corrupção, como os casos "Marquês", "Influencer", ou o mais recente "Spinumviva", em torno de figuras polÃticas de topo, agravaram o divórcio entre cidadãos e instituições. A justiça, lenta e por vezes cega aos poderosos, reforça a ideia de impunidade. O parlamento, capturado por lógicas partidárias e carreirismos, raramente legisla a pensar no bem comum. Os partidos, sustentados por financiamento público, parecem mais preocupados em manter o sistema do que em renová-lo.
A saúde e a educação, pilares do Estado social, estão em franca degradação. O SNS sofre com a fuga de profissionais, longas listas de espera e gestão errática. A escola pública, fragilizada por reformas avulsas e falta de visão estratégica, deixou de ser o elevador social que outrora foi. Em ambos os sectores, reina o desânimo e o improviso.
Portugal habituou-se a viver com fundos europeus como se fossem receitas estruturais. Esta dependência adormeceu a urgência de reformar a economia e diversificar os sectores produtivos. Se esses fundos forem reduzidos ou cessarem, o paÃs poderá enfrentar uma crise ainda mais severa, sem motores internos capazes de sustentar o crescimento.
O sentimento de pertença e de mobilização cÃvica está em erosão. A abstenção cresce eleição após eleição. Muitos cidadãos olham para a polÃtica com desdém ou indiferença. Há uma apatia social instalada, reforçada por décadas de promessas falhadas, ausência de mérito e ascensão de elites medÃocres. Os portugueses sentem-se órfãos de liderança, sem referências claras ou projetos mobilizadores.
Portugal não está condenado ao declÃnio. Tem história, talento, localização estratégica, cultura e um povo resiliente. Mas precisa de coragem polÃtica, visão de longo prazo e ética na governação. Precisa de lÃderes que coloquem o interesse nacional acima das suas carreiras. Precisa de cidadãos ativos, exigentes, informados.
Num mundo instável, Portugal deve preparar-se para viver com menos certezas e mais responsabilidade coletiva. O tempo das ilusões acabou. Agora é tempo de reconstruir — com verdade, exigência e esperança lúcida.
Créditos para IA, DeepSeek e chatGPT (c)