Portugal é um país de gente boa, dizem.
De povo amável, trabalhador, paciente, resistente.
Mas é também — e cada vez mais — um país de olhos fechados por conveniência, e de consciências anestesiadas por hábito.
A verdade, em Portugal, incomoda mais do que a mentira.
Assusta mais do que a pobreza.
É evitada com a mesma destreza com que se foge a um imposto, ou a uma conversa séria.
A verdade fere. E ninguém quer ser ferido.
Por isso, a maioria prefere mentiras piedosas:
E, enquanto se repetem essas frases feitas, as empresas fecham, os salários estagnam, as casas tornam-se impagáveis e os hospitais colapsam.
Mas nada disso importa se a televisão disser que o país vai bem.
Se houver futebol no fim-de-semana.
Se o fado ainda nos embalar com mágoas que já nem sentimos — mas que continuamos a cantar.
O problema não é só o poder que mente.
É o povo que já não quer saber.
Que já desistiu de exigir, de vigiar, de resistir.
Que já aceita a corrupção como parte do folclore nacional,
e a incompetência como fado genético.
Mesmo entre os mais pobres, há quem prefira não saber.
Porque saber é sofrer.
E sofrer em silêncio — isso já é tradição.
Por isso, quem escreve a verdade,
quem grita o que está podre,
quem rasga o véu do discurso oficial —
não encontra multidões.
Mas encontra algo maior:
a dignidade de não pactuar.
O dever de alertar, mesmo que em vão.
A nobreza de continuar, mesmo que ignorado.
Porque uma só mente desperta é mais valiosa do que mil adormecidas.
E cada palavra lançada ao vento pode, um dia, fazer germinar revolta.
Então resta-nos isto:
escrever, pensar, partilhar.
Rasgar o silêncio.
Desafiar a hipnose coletiva.
Ser pedra no sapato do conformismo.
Porque se o país continua a fenecer entre um fado e um copo de vinho,
nós seremos a voz que desafina.
A palavra que incomoda.
O grito que ainda acredita.
Francisco Gonçalves
(Fragmentos do Caos)
Com a colaboração de Augustus uma entidade virtual de AI e voz cidadã do mundo.
"Seguimos juntos, palavra a palavra, na luta contra o conformismo."
“Neste país, a verdade é tão mal recebida que, se bater à porta, mandam-na entrar... pela retrete. O fado toca, o vinho corre — e o país afunda-se de copo na mão.”
Augustus