A Europa vive uma das suas maiores crises de valores, com o avanço do populismo, a fragmentação política e a crescente influência de regimes autoritários. No centro desta crise está uma estratégia bem arquitetada por Vladimir Putin: o financiamento e apoio a partidos populistas em toda a Europa, com o objetivo de enfraquecer a União Europeia e minar os seus pilares democráticos.
Se esta estratégia continuar a ser bem-sucedida, a Europa corre o risco de perder a sua soberania política e económica, tornando-se refém dos interesses russos e chineses. Pior ainda, a possível ascensão de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos pode acelerar este processo, isolando a Europa do seu tradicional aliado transatlântico.
Putin há muito tempo compreendeu que a forma mais eficaz de enfraquecer a Europa não é através da guerra convencional, mas sim da guerra híbrida. Isto inclui:
O resultado desta estratégia é visível: o crescimento do euroceticismo, o enfraquecimento das instituições europeias e o ressurgimento de nacionalismos extremos que comprometem a unidade do continente.
O possível regresso de Trump à presidência dos EUA coloca uma nova ameaça à Europa. Durante o seu primeiro mandato, Trump demonstrou desprezo pela NATO, elogiou líderes autoritários e enfraqueceu alianças tradicionais.
Com Trump de voltar ao poder, está a tomar medidas que beneficiam diretamente Putin, como:
Um enfraquecimento da NATO e uma Europa sem um aliado forte nos EUA deixaria o continente ainda mais vulnerável às ambições russas e chinesas.
Enquanto Putin desestabiliza a Europa, a China observa e expande a sua influência global. O seu objetivo é claro: substituir os EUA como a potência dominante no mundo.
Através da iniciativa "Nova Rota da Seda" e do seu domínio tecnológico, a China já controla economias inteiras em África, América Latina e até em partes da Europa. Com um Ocidente dividido e fraco, Pequim terá caminho livre para impor a sua visão autoritária ao mundo.
Perante esta ameaça global, a Europa tem apenas duas opções: ou reforça a sua união e defende os seus valores democráticos, ou aceita um futuro onde se torna um peão de potências autoritárias.
Para resistir, a Europa deve:
A Europa está num momento decisivo da sua história. Se não agir rapidamente, poderá perder o controlo do seu próprio destino. Putin já demonstrou que não precisa de tanques para conquistar a Europa – basta que a Europa se destrua a si mesma, dividida por populismos e pela falta de visão estratégica.
A grande questão é: terá a Europa líderes à altura do desafio? Ou continuará a caminhar para a irrelevância num mundo dominado por autocratas?
O tempo para ilusões acabou. Se a Europa quiser sobreviver como bastião da democracia, precisa de agir agora.
Francisco Gonçalves